Contrariamente ao posicionamento oficial do neo-regionalismo e das entidades afins, no passado domingo era necessário fazer frente à talvez maior provocaçom lançada contra a Galiza polo espanholismo nas últimas três décadas.
O coraçom da capital da Galiza converteu-se, ao longo do domingo 8 de Fevereiro num campo de batalha ideológico entre duas concepçons antagónicas sobre o futuro do nosso país. Por um lado, a extrema-direita, disfarçada hipocritamente de defensora do bilingüismo, aprofundou a sua campanha de pressom social e intimidaçom mediática sobre parte dos sectores mais colonizados. Por outra, activistas dos movimentos sociais, do associacionismo reintegracionista de base, militáncia da esquerda independentista e simples patriotas alarmados e conscientes do que se jogava Galiza neste dia.
Destacadas eram as ausências, na sua imensa maioria previstas. Agora é tarde para se laiar, embora nunca seja tarde para emendar.
“Galicia Bilingüe” existe porque é um instrumento útil e necessário do espanholismo para forçar ainda mais retrocessos na virtual política de normalizaçom lingüística dos diversos governos autonómicos. É um engendro promovido pola COPE e “El Mundo”, financiada polas forças políticas que secundárom a manifestaçom, alicerçada numha falácia tam descarada e clara como que o espanhol está em perigo no nosso país. Todas as entidades nacionais e internacionas coincidem no crítico diagnóstico sobre o futuro do idioma galego se nom forem radicalmente alteradas no curto prazo as actuais políticas educativas e lingüisticas, desmentindo o discurso dos bilingüistas.
Os quatro anos de governo bipartido PSOE-BNG nom evitárom o lento esmorecer da nossa língua nacional, consolidando o processo de espanholizaçom em curso. Som precisamente as complexadas posiçons do outrora nacionalismo de esquerda, capitulando e arriando a bandeira do monolingüismo polo “direito a viver em galego” e em prol da “convivência lingüística”, co-responsáveis polo desafio do fascismo espanhol, que quer passar à ofensiva e ocupar as ruas para acelerar a espanholizaçom e o extermínio do nosso idioma.
O que aconteceu neste domingo em Compostela tem um paralelismo na nossa história contemporánea mais imediata. A 28 de Junho de 1984, as forças espanholistas culminárom a transferência dos restos de Castelao desde a Argentina ao mausoleu de Sam Domingos de Bonaval violentando o desejo do grande patriota de só voltar quando a Galiza fosse livre.
Centenas de militantes e simpatizantes da esquerda nacionalista tentárom impossibilitar o agravo. As imagens em directo da televisom mostrando a brutalidade da repressom policial e a emocionada voz de Tareixa Navaza dando leitura a fragmentos da obra do rianjeiro fam parte do imaginário colectivo da nossa luita por umha Galiza soberana e socialista. Naquele momento, o galeguismo e as forças mais reformistas da esquerda nacionalista condenárom os protestos, empregando semelhantes acusaçons às que agora utiliza Quintana e os seus corifeus contra a contramanifestaçom do domingo. Se em 1984 fôrom a UPG e o BNG que sem complexos apelárom à sua militáncia e à base social para se manifestar em Compostela, nesta ocasiom NÓS-UP foi, no ámbito político, a única força que convocou a sua militáncia e simpatizantes para fazer frente à extrema-direita na Alameda da nossa capital.
Várias centenas de galegas e galegos convocadas por dúzias de entidades de base, empregando diversas e complementares formas de expressom, defendemos com firmeza o nosso idioma frente à violência fascista. Novamente, a brutal maquinaria repressiva espanhola sob ordens de Manuel Ameixeiras tentou sem êxito fazer-nos calar. Ainda sendo muito mais sofisticada que em 1984, a Polícia espanhola nom deu evitado que umha parte da Galiza organizada conseguisse fazer fracassar a tomada de Compostela polos inimigos desta pátria e deste povo.
Das 2.500 pessoas que realmente secundárom a cruzada contra o idioma, nom podemos esquecer que quase um terço provinha do exterior. Eram militantes fascistas espanhóis chegados em autocarros de Madrid e doutras localidades. Nom pretendemos maquilhar o fenómeno em curso, pois a maioria dos manifestantes vivem aqui. É certo que nesta ocasiom a marcha sobre Compostela era sobretodo umha mobilizaçom nacional-católica de ampas de colégios privados de elite, inçada de respeitáveis famílias da burguesia urbana, onde eram visíveis destacados representantes do PP e do novo fascismo encabeçado por umha ex-dirigente do PSOE.
Porém, devemos aprender das liçons históricas da luita de classes. O fascismo tem que ser combatido com firmeza e contundência desde o seu início. Refiro-me ao verdadeiro fascismo, o ligado aos poderes económicos, financeiros e políticos, e nom ao de banda desenhada. Ceder, desconsiderá-lo, evitar o confronto para nom “fortalecê-lo” e “fazer-lhe o jogo” é simplesmente suicida, um erro estratégico, tal como nos demonstrou o posicionamento da social-democracia e da esquerda burguesa na década dos anos trinta do século passado.
Hoje, na Galiza, um sector destacado da base social do PP, mas também do PSOE e IU, tem umha deriva fascizante em todo o referente à defesa da unidade do Estado espanhol. Trinta anos de propaganda, de pactos e acordos antiterroristas, conseguírom vertebrar um perigoso monstro que antes ou depois será incontrolável. A conjuntura internacional e nacional modulada pola profunda crise do capitalismo é propícia para que coalhem mensagens deste calibre entre sectores populares. Eis a necessidade de evitar que se desenvolva, mas isto nom se consegue cedendo, procurando falsos consensos, realizando brindes ao sol, adaptando o discurso e a luita ideológica ao imediatismo eleitoral.
É simplesmente temerário e inquietante deixar que intimidem com absoluta impunidade este povo, que inoculem as suas mentiras e manipulaçons sobre umha parte dessa imensa maioria social de galegas e galegos que consideram correcto normalizar a língua e a cultura deste país. É necessário, pois, activar as consciências adormecidas da imensa maioria do povo trabalhador –das quais umha parte nom é monolíngüe em galego, mas tampouco contrária a recuperar o perdido– para evitar a destruiçom do principal elemento da nossa identidade nacional. Obviamente, este processo nom só necessita respostas amplas e unitárias: está ligado à construçom nacional, a qual por sua vez só é viável exercendo o direito de autodeterminaçom para nos podermos dotar de um Estado.
No imediato, cumpre dar umha resposta maciça nas ruas. É imprescindível apostar numha grande mobilizaçom popular que deixe bem claro que este país nom renega da sua identidade, que a imensa maioria deste povo deseja que o futuro seja em galego. Com clareza e generosidade, sem ambigüidades nem exclusons.
Para essa imprescindível luita unitária polo galego, a esquerda independentista estará sempre disposta a dar todo, como demonstrou no passado domingo, até colectivamente estragarmos de vez os planos de morte que Espanha reserva ao nosso idioma.
Carlos Morais nasceu em Mugueimes, Moinhos, na Baixa Límia, 12 de Maio de 1966. Licenciado em Arte, Geografia e História pola Universidade de Santiago de Compostela tem publicado diversos trabalhos e ensaios de história, assim como dúzias de artigos no Abrente, A Peneira, A Nosa Terra e outras publicaçons periódicas. Activista dos movimentos sociais, inicialmente no estudantil, sendo fundador dos CAF no cámpus universitário de Ourense, e depois do antimilitarista é militante comunista desde jovem. Actualmente forma parte da Permanente Nacional de NÓS-UP e é Secretário Geral de Primeira Linha.
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