Nom gosto da polémica do artigo do topónimo Corunha. Parece-me que comunica umha enorme falta de perspectiva e ambiçom por parte do movimento normalizador. Por responsabilidade ou medo a diferir das campanhas do conjunto deste movimento, o reintegracionismo costuma nom pronunciar-se em relaçom a este assunto, mas calculo que, em geral, é umha luita que provoca indiferença entre os partidários de ter em conta o português para construir o galego. Vou tentar explicar porquê.
Tanto na Galiza como no mundo lusófono muitos topónimos levam artigo. Outros nom. O tipo de nomes de lugar que o costumam levar coincide na Galiza e em Portugal. Assim, muitos nomes de lugar que ainda coincidem com palavras comuns, levam: Vou para o Barqueiro, Sou da Marinha, etc. Outros, como os começados pola palavra Vila, nom levam: Vou para Vila Garcia; Sou de Vila Real, etc. Naturalmente, existem muitas excepçons a todas as normas que podam elaborar-se neste sentido, havendo inclusive topónimos que podem levar artigo numhas localidades e noutras nom, mas o importante é que as tendências som idênticas na Galiza e em Portugal.
Nom obstante, neste último país nom triunfou o hábito castelhano de escrever sistematicamente o artigo colado ao topónimo. Isto é assim porque o facto de levar artigo em muitos casos nom quer dizer que o artigo pertença a essa palavra. Assim, em Portugal dim: O Porto é umha cidade mui bonita ou Vivo no Porto, mas, nas placas indicadoras da estrada ou numha lista de cidades, escrevem só Porto. É o que acontece com qualquer outro tipo de palavras. Por exemplo, ninguém pode dizer: *Mesa é bonita ou *Pom o prato em mesa em vez de A mesa é bonita ou Pom o prato na mesa. Porém, num dicionário figurará a entrada sem artigo, e nom a mesa, e nuns grandes armazéns de móveis nom pode aparecer a secçom As Mesas, mas só Mesas. Isto nom quer dizer que em Portugal e na Galiza usemos palavras ou topónimos diferentes, como as normas da RAG pretendem que pareça. Estas normas, levadas ao extremo, deveriam prescrever que os nossos nomes aparecessem com artigo nos documentos oficiais, já que, se na língua familiar eu sou chamado o Eduardo também teria que aparecer como O Eduardo Sanches Maragoto no bilhete de identidade. E mais, deveriam sancionar-se como incorrectas frases do tipo Na Galiza há muitos Outeiros, já que, se o artigo fai parte do topónimo, a frase correcta seria, necessariamente, Na Galiza há muitos Os Outeiros.
Passados mais de 25 anos da promulgaçom das normas da RAG, verifica-se que a obrigatoriedade de escrever o topónimo com artigo em qualquer caso só conseguiu gerar confusom na escrita, sendo mui habitual que as cámaras municipais se anunciem assim: Concelho de O Carvalhinho, de forma alheia à maneira de falar de qualquer pessoa galega ou portuguesa. Na língua falada, polo contrário, ninguém costuma enganar-se: Concelho do Carvalhinho. Por isso, é um pouco absurdo que, ainda que em Portugal e na Galiza digamos Estou na Guarda (a do Baixo Minho e a da Beira Interior portuguesa), enquanto nas autoestradas lusas escrevem Guarda, nós escrevamos A Guarda, plagiando umha prática espanhola (Las Palmas, La Rioja) que nos fai divergir de 300 milhons de utentes de galego-português.
No entanto, a meu ver, o principal problema nom é técnico, como poderia parecer com a leitura dos parágrafos anteriores. Inquieta-me que a campanha mais prolongada do movimento normalizador desde a Lei de Normalizaçom Lingüística consistisse no ambicioso objectivo de galeguizar este confuso artigo usando os critérios do espanhol. Confuso para a comunidade internacional, nomeadamente lusófona, que por mais que queiramos que repare no artigo, só repara em que o topónimo também contém um eñe, a letra mais simbólica do espanhol. Confuso para quem escreve em castelhano, que nom entende porque há de escrever Londres ou La Haya e nom La Coruña. E, finalmente, confuso para as galegas e os galegos, que acabam por associar a normalizaçom lingüística com batalhinhas de políticos que nom tenhem muito mais que fazer.
Com este artigo, nom quero deixar de estar ao lado das pessoas que levantam a bandeira do topónimo da Corunha, porque de modo algum quereria caminhar de maos dadas com as que tenhem em frente. Mas vai sendo hora de que o galego deixe de jogar nesta liga regional em que o importante acabam por ser irreleváncias (aquele artigo ali ou acolá) que nos distraem do objectivo principal: ganhar possibilidades comunicativas para a nossa língua. Estas jogam-se noutra liga que ultrapassa minudências e, claro, fronteiras provinciais.
Naceu no Barqueiro (Ortegal) en 1976 mais pasou a súa infancia e adolescencia na parroquia de Feás (Cariño). Estudou Filoloxía Portuguesa en Compostela, onde participou na fundación do Movimento de Defesa da Língua (MDL). Na actualidade traballa como profesor de portugués na Escola Oficial de Linguas de Compostela. »