Entre a variada fauna que habita as universidades, existe uma espécie em perigo de extinção que, cada ano, busca sobreviver ao emocionante jogo da roleta russa. Refiro-me a esse pequeno feixe de criaturas contratadas por meio dos programas 'Parga Pondal' e 'Ramón y Cajal' orientados à captação de científicos de ampla experiência investigadora. Algumas destas criaturas são galegos e galegas que trabalhavam fora do país, mas tamém hai muitas que venhem doutras partes de Espanha e do estrangeiro. Este ano a pistola da roleta estava carregada para os contratados pola Xunta em 2004 e tinham o seu posto de trabalho nas Universidades de Vigo e da Corunha. Todos à rua. Não havia, no entanto, bala mortal para os de Santiago. Tampouco havia para os que dependiam do Ministério.
Não hai que ser um perito em biologia para dar-se conta que não vai ser fácil evitar a extinção desta espécie de simpáticas criaturas. A teoria darwinista aqui não se aplica. As balas aleatórias podem matar os melhores, aqueles que publicam em revistas de mais impacto, os que captam mais recursos externos, os que contratam mais pessoal investigador, os que dirigem mais teses doutorais Dá igual. O jogo da roleta russa elimina ao chou. Sem piedade, sem critério. Esta é, hoje em dia, a estratégia I+D+I que se aplica nalgumas universidades galegas.
Os objectivos destes programas de contratação forom especificados claramente polo Goberno central a princípios desta década. Algumas comunidades autónomas 'copiarom' inteligentemente a ideia e aplicarom-na por meio de programas específicos regionais. Entre os principais objectivos visados, podo citar os seguintes: identificar os melhores científicos e facilitar a sua integração no sistema de i+d espanhol, buscar mecanismos de estabilização e melhorar as condições de trabalho dos investigadores pós-doutorais, incentivar os centros de i+d (universidades, CSIC, etc.) para que definam as suas estratégias e prioridades em matéria investigadora, criar um clima de apoio à mobilidade dos investigadores freando a endogámia, etc. Só 8 anos depois da posta em prática dos primeiros programas, existem indícios de que os objectivos propostos estão a cumprir-se.
Assim o mostra um recente estudo que analisa o impacto das publicações científicas nos últimos 10 anos de 2000 centros em todo o mundo. Dentro deste estudo aparecem, em postos bastante medíocres do ranking, 50 das 78 universidades espanholas. É curioso, no entanto, constatar que, entre as 6 primeiras universidades de Espanha, 5 são catalãs. Segundo vários analistas, a razão que explica o sucesso das universidades dessa comunidade é a política bem planificada de captação de investigadores dentro dos programas Ramón y Cajal e similares. De facto, graças à posta em prática de estratégias inteligentes de captação de recursos humanos desde 2001, mais da metade dos investigadores contratados ao abeiro destes programas em toda Espanha forom para a Catalunha. Esta experência mostra que hai uma correlação significativa entre contratação de investigadores consolidados e melhora da qualidade da produção científica. O resto já todos o sabemos: mais dinheiro para projectos competitivos, mais contratados a cargo de projectos, mais contratos de investigação com empresas... Em resumo: incremento do PIB.
Aqui na Galiza, e especialmente nas universidades da Corunha e Vigo (na de Santiago, o jogo da roleta russa não se pratica), a situação é caótica. 10 investigadores do programa Parga Pondal (6 na Corunha e 4 em Vigo) estão na rua. Estes investigadores conseguirom todas as acreditações necessárias e passarom todas as inumeráveis avaliações externas aos que forom submetidos desde a sua incorporação, hai 5 anos. Além disso, como todos eles cumpriam os requisitos da última e mais exigente avaliação, chamada 'Manuel Colmeiro', a Junta da Galiza comprometia-se a seguir pagando durante três anos mais, sempre e quando a universidade se comprometesse tamém a abrir a concurso uma praza de professor-investigador. É dizer, as universidades podem conseguir investigadores senior durante 8 anos (5+3) sem pagar um peso. Isto quer dizer que a universidade deixa de pagar o 27% por cento de toda a sua carreira profissional, contando com que a média de idade de incorporação destes investigadores é de uns 35 anos. Como bem di o meu amigo Álvaro Gil, ex-Parga Pondal, nunca antes as universidades e outros centros de investigação tiverom a possibilidade de pagar tão barato um produto tão bom.
Os argumentos dos vicerreitores para justificar o envio à rua destes investigadores consolidados são lamentáveis. A Vicerreitora de investigação da Universidade da Corunha, por exemplo, dizia isto num recente artigo de opinião num jornal galego: ?Los programas de contratación de investigadores fueron puestos en marcha por las distintas Administraciones sin una previsión de lo que iba a ocurrir cuando finalizaran y sin cambiar las, en muchas ocasiones, obsoletas estructuras de investigación en nuestro país?. Esta fermosa frase mostra claramente o desconhecimento da Vicerreitora dos objectivos dos programas de captação de investigadores. Como dixem anteriormente, uma das motivações destes programas é a de incentivar as univesidades e o resto de centros de i+d a que definam as suas estratégias e prioridades em matéria investigadora a fim de mudar as suas obsoletas estruturas de investigação. As Administrações proporcionam recursos humanos em troca de previsão e reorganização por parte das universidades. Ora bem, semelha que os vicerreitorados (excepto Santiago) só se dedicam a contar e repartir os dinheiros que recebem e não a planificar o gasto. O problema não é que não planifiquem, o problema é que pensam que NÃO tenhem que planificar nada. Isto cria uma inércia perigosa, já que se definem incorrectamente as responsabilidades do cargo, e os seus sucessores tenderão a fazer o mesmo.
Por último, devo salientar o inquietante silêncio da Junta actual, em particular do misterioso director geral de i+d+i. Suponho que terá boas intenções, mas ninguém sabe nada delas. Declina convites para participar em jornadas de investigação, não participa em debates, não defende o programa Parga Pondal pagado polo orçamento da sua direcção geral (e iniciado pola Junta de Fraga). Bom, espero que quando apareça, não seja demasiado tarde e já só falemos duma espécie extinguida de investigadores.
P.S. Um forte abraço aos investigadores Parga Pondal contratados em 2004 nas Universidades da Corunha e Vigo.
Naceu en Vigo en 1969. É licenciado en Filoloxía Hispánica pola USC e Doutor en Lingüística pola Université Blaise Pascal, Franza. Actualmente, é docente-investigador Ramón y Cajal na USC, especializado en lingüística computacional. Máis información na súa web persoal. »