Um príncipe da Pérsia das grandes chairas depois de uma viagem ao Oriente viera com ideia de introduzir os estribos nas cavalgaduras dos seus estados. E para tal efeito mandou por todos eles mensageiros.
Passado um ano, poucos fizeram caso do aviso. As selas repuxadas que se fabricavam eram tradição conservada de pais para filhos, magníficas, com versos e letras entrelaçados em gravura, pedraria e prata; monumentais e pesadas, desenhadas para cavalgarem sem estribeiras.
Nos exércitos a cavalaria pesava, por isso e ser lenta, pouco, e a que havia era de parada vistosa e mensageira de longe, para o que faziam mais efeito.
A ideia não entrava no país. Afazer-se as modernas selas era cavalgar de jeito novo e as velhas eram belas e bem moles para assentar o cu.
O príncipe desesperava e estribeirava a grão maneira na sua ligeira sela por toda a parte. E a gente agitava-se e escapava para dentro das suas casas fazer tapetes de filigrana quando o via vir, considerando-o chato ou enlouquecido com aquela teima.
E estando nessas, chegaram os Mongóis, aqueles nômades ferozes que usavam estribos curtos e gastavam cavalos ligeiros e miúdos que guiavam com as pernas para dispararem em andamento os seus cativos arcos curvados, tão eficazes. Quando passaram, todas as cabeças decepadas, fixadas em postes davam razão ao príncipe.
Depois de escutarem esta história foi como os Panônios, desconfiados, prevenidos e muito amantes das tradições, perguntaram ao narrador viageiro que vinham sendo os estribos. E, meu dito meu feito, ferreiros e seleiros apuraram na tarefa e modificaram as selas das suas poderosas monturas e acharam que não apenas a cavalgada era rápida e segura quanto que as suas duas longas espadas podiam ser manejadas bem melhor desde a estabilidade dos estribos.
(A Crunha, 1970) Da Academia Galega da Língua portuguesa, Doutor em Filologia Hispânica (secção de Galego Português), especialista em história do impresso galego na etapa contemporânea. Tem focado os seus contributos arredor do movimento das Irmandades da Fala, a figura de Angel Casal e o mundo do livro galego. Trabalha como bibliotecário na Universidade de Valladolid.
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