Suso de Toro anunciava este dia que abandonava a condição de escritor de oficio e regressava à de professor no Instituto onde começou a trabalhar hai mais de vinte anos.
Sentiu a necessidade de reflectir sobre a sua aventura da literatura como profissão e o por qué do remate. Fai um alto depois de ter escrito mais livros que anos hai que começara a trabalhar como educador e quando com Sete palabras nos dera uma das suas melhores obras. Acho que são o engenheiro que aparece numa linha dessa obra, chamando-o desde Santiago, perturbando-o desde o "outro mundo" seu, quando estava à beira da casa que fora dos seus avôs em Formariz, entre Toro e Fermoselle, procurando as raices paternas da sua personalidade. Desde 1977 partilhamos anos de chamadas e conversas e uma angueira política, ainda inacabada, na que a cultura ocupa um lugar principal. Daquela el começava e eu, já em Santiago, tivera a experiência de Vigo. Continuava-mos as tradições do movimento nacional galego e da esquerda democrática européia, no momento crucial da queda da Ditadura. Comprovo que a sua primeira novela, Caixon desastre foi publicada em 1983, durante a primeira legislatura do Parlamento da Galiza, e a segunda Polaroid em 1986, na seguinte. Quando terminou a terceira legislatura já enchera com outros livros, o último deles Tic Tac em 1993, um ciclo que contribuia a revolucionar a literatura galega. Com Suso de Toro, emergia a literatura da Galiza urbana, recolhendo toda a tradição dos precursores do século XIX e da primeira parte do XX, mas tomando nota da mudança que se produzia na sociedade galega, abrindo-se ao mundo como sempre.
Não hoube para mim nem para os nossos companheiros uma quarta legislatura no Parlamento. Nesse momento o meu amigo empenhou-se em fazer um livro sobre todo o que passara, fazendo intervir também a muitas vozes que viveram directamente aquela época.
Desde aquel 1983, com o fito recente de Home sen nome, uma dura aproximação ao tempo da Guerra Civil, furando na personalidade dos indivíduos que a provocaram ou a padeceram Suso de Toro construiu uma obra singular, tendo parte como poucos em a literatura própria ser um território liberado. A sua obra está entre as melhores da história da literatura galega e entre as mais atrevidas em procura de uma personalidade. Constitui um elo necessário e precioso na linha criativa reiniciada por Rosalia de Castro em 1863.
Neste tempo problemático e de incompreensão, no que a independência de espirito e de propósitos é posta baixo suspeita e no que a literatura, e não só ela, está submetida ao monopólio mediático, Suso de Toro quer deixar de ser empresário autónomo da escrita; diz que guarda os seus papéis e que retorna à vida de professor. Esta bem, se el assim o decide, mas não está demonstrado que ter outra profisión esmague a expressão literária. De Kafka a Valente, com a manchea de escritores e escritoras que o acompanham em Galiza nesse labor imprescindível, a vida literária está inzada de pessoas que tendo outro trabalho deixaram uma pegada literária indelével. Depois de todo, el mesmo já o fixo deste jeito em boa parte da seu tempo de escritor e a todos nos convém um tempo de reflexão, como o que el se outorga. Porém, penso que depois de ter matinado, entre Santiago e o mar de Louro, mais pronto que tarde encetará a segunda parte da sua obra literária, com a gente e os dias como norte.
El para mim responde às palavras do Eclesiastés: "Um amigo fiel, amigo seguro/quem o encontra, encontra um tesouro".
Camilo Nogueira Román naceu en Lavadores (Vigo) en 1936. Enxeñeiro industrial e economista, foi eurodeputado polo BNG entre os anos 1999 e 2004.