Xosé Manuel Beiras, Mestre
Mália as ingentes quantidades de Propaganda que, diariamente, estamos obrigad@s a consumir, há já muito tempo que sabemos que España (o projeto nacional espanhol) é uma fraude para a Galiza. Mas acontece que, de quando em vez, algum sucedido teima em reclamar a nossa atenção por sobressair, se quer ligeiramente, do velho texto estabelecido como guião do processo de colonização da Galiza. Ao sucedido, desta volta, deu-lhe por adoptar a forma de declarações estrambóticas.
Não é, por suposto, a intenção deste humilde artigo oferecer uma análise polo miúdo do processo de colonização em curso na Galiza (a obra de Albert Memmi Retrato do colonizado, prefaciada por Sartre, e tantas vezes aludida por Beiras, continua a ser leitura obrigada), mas sim assinalar alguns dos aspetos desta dinâmica. Assim, sendo muito sintéticos, podemos dizer que a estratégia colonial busca injetar capital –valendo-se das instituições e mecanismos de poder controlados polo pensamento da metrópole– nos rasgos étnicos assumidos como próprios polo coletivo de pertença do colonizador, dentro dum corpo social que tem por próprios outros rasgos étnicos diferentes; o necessário correlato deste processo de valorização do alheio é a desvalorização do próprio. Se a jogada sai bem, o resultado é que a mobilidade social ascendente na sociedade colonizada passa a ser associada aos rasgos étnicos próprios do colonizador –este é o papel jogado na Galiza pola língua espanhola, por exemplificar com o caso galego–. E se a jogada se completa, o colonizado chegará a assumir como próprios os rasgos étnicos –símbolos– do colonizador. Podemos dizer, pois, que o processo de colonização da Galiza fica, portanto, ainda inconcluso, pois a imensa maioria da sociedade galega contempla a língua galega –a língua é o diacrítico par excellence no caso galego– como a língua própria da Galiza. Cumpre, logo, perguntarmo-nos cara onde conduz este processo de colonização em curso. O que aconteceria na Galiza se este processo se completasse? O que aconteceria, portanto, se os rasgos que hoje assumimos como próprios da Galiza deixaram de ser apercebidos como tais, para serem substituídos por rasgos diacríticos da nação espanhola, que constrói o nacionalismo espanhol –ideologia do colonizador–?
A resposta a estas perguntas já vai indo velha e explicita-la semelha quase lembrar uma obviedade. E é que por mui bem que falemos a língua espanhola e que, incluso, cheguemos a admiti-la como própria da Galiza, por muito que desprezemos a nossa cultura tradicional, por muito que aborreçamos o nosso acento, por muitos tempos compostos que metamos no nosso espanhol da Galiza, por muito que nos sintamos autênticos membros da Hispanidad ao tempo que renegamos da Lusofonia, por muito que consideremos García Márquez um motivo de orgulho para a nossa literatura ao tempo que compramos Saramago em edição espanhola e por muito que digamos Pablo Coelo; por muito que ignoremos e nos esforcemos em desacreditar o nosso viçosíssimo imaginário mítico coletivo ao tempo que acreditamos na Reconquista e no “descobrimento espanhol” da América e por muito que espanholizemos as nossas tradições; por muitas touradas que celebremos em La Coruña, por muito que nos alegrem os êxitos da seleção espanhola, de Fernando Alonso e de Rafa Nadal, por muito que leiamos Manuel Rivas em espanhol “porque así lo entiendo mejor”, por muito que culpemos à “mentalidade galega” do nosso atraso económico... Por muito, em definitiva, que os galegos nos esforcemos em sentirmo-nos espanhóis. Por muito que façamos isso tudo, sempre haverá uma Rosa Díez a recordar-nos o que verdadeiramente somos: gallegos.
Arturo de Nieves Gutiérrez de Rubalcava (A Crunha, 1983). Licenciado em Sociologia pola Universidade da Crunha e Bachelor of Science with Honours in Sociology pola Universidade de Abertay Dundee. Actualmente realiza estudos de doutoramento na Universidade da Crunha. Entre os seus interesses investigadores destacam temas como a língua, a identidade colectiva ou o comportamento eleitoral na Galiza contemporânea. »