Eu não estava a ver televisão quando este silêncio de Gabilondo, no que vou falar, se pronunciou; sim os silêncios se pronunciam, podemos até dizer que os silêncios falam; mas eu este não o ouvi porque, como já disse, não me achava a ver televisão; eu não vejo televisão espanhola; alguém me falou deste silêncio ofensivo de Gabilondo; porque o dele ainda me ofendeu, talvez não por muito tempo, mas desta vez ainda me ofendeu, e quero explicar por que, como também quero explicar por que as palavras da Rosa Díez não me ofenderam. As dela, esta espanhola, em todos os sentidos da palavra, não me ofendem nem muito nem pouco, deixam-me totalmente indiferente... Chega-me com lembrar duas frases: ‘ofende quem pode e não quem quer’ e ‘à merda não se lhe faz apreço’...
Ora bem, o silêncio de Gabilondo ofendeu-me, ofendeu-me porque me indica que ele entendeu o que a Rosa Díez queria dizer quando falou de ‘gallego en sentido peyorativo’. Eu não entendo o que ela quis dizer com isso, e como eu haverá, imagino, muita gente, e portanto penso que o senhor Gabilondo deveria ter perguntado a tal fulana espanhola o que ela queria dizer com aquela frase, mas ele não perguntou; e portanto a mim esse silêncio me diz que ele comparte código linguístico, e neste caso xenófobo, com a Rosa Díez; e por se isso fosse pouco, nesse silêncio ouve-se também dizer que a audiência desse programa deve saber o que a espanhola Rosa Díez quis dizer com esses termos ‘gallego en sentido peyorativo’ ou então o apresentador teria procurado uma aclaração para essa audiência, mas não pediu...
Acodem a minha memória as palavras de uma amiga afro-americana de Baltimore, companheira de estudos na Universidade de Maryland, quando era ofendida por algum professor desses antigos que ainda há por todo o lado; o professor fazia algum comentário que sem chegar a poder ser considerado racista, podia ser visto como insensível com a minoria negra daquele país; a minha amiga Kim, que estava num curso superior ao meu, sempre mo comentava e invariavelmente me dizia: ‘a mim o professor não me ofende, a mim ofende-me o silêncio de meus companheiros brancos...’ Hoje quero agradecer a Kim as suas palavras doutrora, das que tenho botado mão muitas vezes, porque elas me ajudam a entender a discriminação subtil, mas xenófoba, que sofremos os galegos no Estado dos espanhóis.
Concha Rousia nasceu em 1962 em Covas, uma pequena aldeia no sul da Galiza. É psicoterapeuta na comarca de Compostela. No 2004 ganhou o Prémio de Narrativa do Concelho de Marim. Tem publicado poemas e relatos em diversas revistas galegas como Agália ou A Folha da Fouce. Fez parte da equipa fundadora da revista cultural "A Regueifa". Colabora em diversos jornais galegos. O seu primeiro romance As sete fontes, foi publicado em formato e-book pola editora digital portuguesa ArcosOnline. Recentemente, em 2006, ganhou o Certame Literário Feminista do Condado. »