-O Hino... o hino... já fede tanta tonada com isso do hino...
-Homem pois eu, que queres que che diga...
-Nada, isso já até dá nojo; ademais para que se vai andar agora com isso? Isso foram tempos, cousas do passado...
-Bom, por um lado sim, ora por outro, que lhe queres... as cousas não sempre foram fáceis, é claro...
-Pois é claro que não o foram, razão demais para não vir lá agora amolar com a trapalhada essa, ou pensam que a gente é parva e aguenta o que lhe botem!
-Homem eu não o vejo assim tão despropositado, não sei... eu...
-O quê! Que vão para o caralho! Que o dianho os não leve, a eles e ao hino; quem cona se vai importar com que se tem ou não tem que dizer algo num raio de letra...?
-Home, tamém tu! a letra está bem, é um poema de Pondal.
-Eh!? Tu que dizes oh! Tu que dizes!, o hino espanhol não tem letra, a não ser que recuperarmos aquela de:
Franco Franco
que tiene el culo blanco
porque su mujeeeer...
lo lava com Arieeeel...
Ora por mim podem até mudar a marca do detergente, que esse igual já nem se fabrica.
-Espanhol? Eu pensava que estavas a falar no nosso, no hino galego.
-Mulher, e como ia falar no nosso! Não! Eu falava do deles que seica andam a lhe dar mais voltas que a um peão, para ver se lhe colocam uma letra.
-Bah, isso é outra cousa, a mim ao deles como se lhe querem por pitas chocas a cacarejar, que façam à sua vontade, o que queiram...
-Pois isso é o que eu che estava tratando de dizer todo este tempo; ora tu tamém! Mulher, tu não estás boa, como ia eu falar assim do nosso, às vezes caralho parece que não és bem!
-Desculpa, oh! É que como o nosso o levam criticado tanto pois eu pensei...
-Do nosso falam falam, e mais podiam calar, que não sabem o que falam.
-Tamém digo! Por isso é que não entendia onde tu querias ir ter com a conversa.
-Sabes o que? Que façam com o deles o que lhe saia da gana, e que deixem de tanto falar mal do nosso, que nós o deles não lho vamos lá meter no pote das papas como eles têm feito connosco, assim que não deviam dar tantas queixas...
-Isso digo eu, ademais a eles o que diga o nosso hino que mais lhe terá!
-Pois já vês! Falam para não estar calados, porque não entendem nada.
-Não entendem, não!
-E mas nós a eles sim que os entendemos, e bem que os entendemos!
-Sim, eles na escaleira querem sempre é subir.
-Isso, subir pisando na cabeça dos demais se for possível; porque, vamos! Vir-nos lá barrenar com a zaragalhada essa por mor do seu hino, como se não houvesse cousa mais importante no mundo da que se ocupar, que diz que até lhe foram com o conto lá perguntar ao Fernando Alonso, esse dos coches, não sei se conheces, para ver o que ele opinava... e quando depois os demais mencionamos o nosso, isso não lhes parece bem.
-Oh! Se ainda hão de querer que nós cantemos o deles no lugar do nosso, é claro.
-É mulher é, por isso não querem nem que aprendamos o nosso, oh caralho, digo-cho eu que os vejo vir, ai vejo, vejo... vá se os vejo!
-E eu também os vejo, que cega não sou, e deviam estar calados, que o que tem telhado de vidro não devia atirar pedras ao ar.
-Eles atiram as pedras, mas os condenados sempre atiram para o telhado dos outros.
Concha Rousia nasceu em 1962 em Covas, uma pequena aldeia no sul da Galiza. É psicoterapeuta na comarca de Compostela. No 2004 ganhou o Prémio de Narrativa do Concelho de Marim. Tem publicado poemas e relatos em diversas revistas galegas como Agália ou A Folha da Fouce. Fez parte da equipa fundadora da revista cultural "A Regueifa". Colabora em diversos jornais galegos. O seu primeiro romance As sete fontes, foi publicado em formato e-book pola editora digital portuguesa ArcosOnline. Recentemente, em 2006, ganhou o Certame Literário Feminista do Condado. »